sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O encontro com o Santo Padre na visita Ad Limina

Durante esta “Visita ad Limina”, visita ao limiar onde estão sepultados os apóstolos são Pedro e são Paulo tive a graça de estar por duas vezes com o Santo Padre Bento XVI e comigo estavam simbolicamente presentes todos os fiéis da nossa Diocese de Petrópolis.
Encontrei o Santo Padre logo depois de sua volta da viagem apostólica à Inglaterra e estava muito feliz por ter falado ao coração das pessoas: “Nos quatro dias intensos e maravilhosos transcorridos naquela nobre terra tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, e eles falaram ao meu, sobretudo com a sua presença e o testemunho da sua fé”.
A minha primeira impressão no encontro com o Papa foi de estar diante de alguém que fala ao coração, acolhe com simplicidade e escuta com atenção e com muito amor. A mesma fineza que tem com chefes de estados e poderosos ele tem com todos que o encontram, mesmo que por alguns segundos. Imaginem a minha alegria de poder estar com ele por duas vezes, uma delas conversando por vinte minutos.
Logo demonstra um claro conhecimento da nossa Diocese quando, com muito interesse pergunta: “como estão os franciscanos”. E fica imediatamente feliz quando lhe comunico que a situação atual é muito boa, com uma direta colaboração com a vida diocesana. E continua: “E os padres como estão? e as vocações? e os leigos? e as pastorais sociais?” E ainda pergunta: “Qual é a principal atividade da Diocese?” Lhe respondo que a prioridade é a formação dos seminaristas, dos leigos e a missão permanente na sociedade”. Falo ainda da nossa presença no campo da educação, das escolas paroquiais e católicas, da Universidade Católica de Petrópolis. Diante da sua pergunta sobre o atual momento social e político e sobre as eleições aproveito para apresentar a situação do Ensino Religioso nas escolas públicas, sobretudo depois do Acordo Brasil Santa Sé. Ele demonstra um profundo interesse e afirma que tem plena confiança no processo democrático do País com maior número de católicos no mundo.
Pra mim, diante do Santo Padre foi o momento de colocar a minha vida e toda a nossa diocese em suas mãos com amor filial e plena disponibilidade. È como estar diante de Jesus que te acolhe e te convida a dar ao mundo o testemunho da esperança e do amor de Deus. No encontro com o sucessor de são Pedro você tem clara certeza de estar diante do sinal vivo do Senhor com o seu rosto amável e acolhedor e o seu abraço sobretudo aos mais pobres e pequenos.
De grande interesse foram também os encontros com os colaboradores mais próximos do Santo Padre e os seus organismos que são as várias Congregações da Cúria Romanas como a Congregação para a Doutrina da Fé, para os Bispos, para os Padres, os Religiosos, os Leigos, da Educação Católica, da Família, do Culto Divino, da Unidade dos Cristãos, etc. Destaco apenas alguns encontros a começar pelo Pontifício Instituto para a Família. Na nossa conversa foi dada muita atenção à proposta do valor positivo da família segundo a visão cristã, mesmo diante dos ataques de muitas correntes contrárias do nosso tempo. Destacou-se a importância do período de preparação ao casamento e à participação dos casais na vida da comunidade cristã. Também se deu a devida atenção aos casais de segunda união que mesmo não podendo receber a santa comunhão são membros da Igreja e podem participar de diversas pastorais. Um cuidado particular foi dado à defesa da vida nascente e à educação cristã dos filhos.
No Pontifício Conselho para os Leigos se deu particular atenção aos jovens e à sua participação nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e nós, Bispos do Leste 1, tivemos a oportunidade de lembrar quão números foram os nossos jovens nas últimas JMJ e como está sendo bem preparado o encontro de Madrid em 2011. Tivemos a grande alegria de ouvir que a JMJ de 2015 poderá ser no Rio de Janeiro.
Na Congregação para o Clero, o cardeal Dom Cláudio Hummes, teve palavras de grande encorajamento para os nossos padres e alertou sobre a absoluta necessidade de uma vida evangélica, particularmente depois dos escândalos amplamente propagados pela imprensa nos últimos tempos.
Na Congregação para a Educação católica se falou da formação nos seminários, nas escolas e nas universidades católicas que devem ser de fato plenamente católicas. Também se falou do Ensino Religioso e do direito das famílias terem um Ensino segundo a sua fé e a visão cristã da vida. Aproveitamos para lembrar que o nosso Estado é o único no qual esta sendo implantada uma lei sobre o Ensino Religioso Confessional e Plural.
Em várias Congregações romanas voltou o tema do avanço das novas denominações religiosas de caráter pentecostal que muitas vezes tem uma atitude agressiva com a Igreja católica e os outros credos. Aqui os prelados romanos preferiam escutar o nosso testemunho e como estamos tomando as devidas providências, sobretudo a partir da V Conferência do episcopado latino americano de Aparecida. Sem perder a atitude ecumênica própria da Igreja católica, este fenômeno nos provoca a um testemunho mais corajoso da nossa fé e a um dinamismo missionário muito mais cheio de convicção e de audácia.
Exatamente isso aconteceu com nós Bispos do Estado do Rio de Janeiro durante a última “visita ad limina”, um novo fervor particularmente depois do encontro com o Santo Padre e um desejo grande de confirmar na fé os nossos fiéis para que juntos pastores e povo de Deus possamos dar à nossa sociedade um anuncio de a esperança e de vida plena, a partir do abraço de Cristo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mensagem de Aparecida

A valorização da vida pela educação

Palestra realizada por Dom Filippo Santono, Bispo Diocesano de Petrópolis, no 3º Congresso da Pastoral da Educação da Diocese de Petrópolis, em 13 de setembro de 2008, na Universidade Católica de Petrópolis.

... Louvamos a Deus pelo dom maravilhoso da vida. A Conferência de Aparecida diz: “Louvamos a Deus pelo dom maravilhoso da vida, por aquele que a honra e a dignifica ao colocá-la ao serviço dos demais. E porque agradecemos? O Documento explica: “Pelo espírito alegre dos nossos povos, que amam a música, a dança, a poesia, a arte, o esporte, vivem uma firme esperança em meio a problemas e lutas”. A Conferência nos convida a olhar os nossos povos, a olhar a vida, a tradição, a cultura, uma cultura que não é uma cultura para baixo. Mesmo nas dificuldades, nos problemas, está sempre cheia de esperança.

O Valor Sagrado da Vida Humana (nº 108)
“Bendizemos ao Pai porque mesmo entre as dificuldades e incertezas, todo homem aberto sinceramente à verdade e ao bem comum, pode chegar a descobrir a lei natural escrita em seu coração” (cf Rm 2,14-15).
Chamo a atenção que a Conferência de Aparecida não parte de discursos, nem de discursos religiosos sobre Deus, mas é a atenção à realidade que constitui a vida.
É necessário olhar aquela que é a realidade, partir da realidade. Essa é a indicação de um método muito importante para a educação. É importantíssima esta atenção à realidade porque Deus fala através da dela. Não somos sonhadores, não seguimos aquilo que não vemos, mas partimos daquilo que vemos, daquela que é a realidade nossa vida: as perguntas, os questionamentos, as interrogações. Devemos partir, portanto, da realidade, da nossa pessoa, das perguntas fundamentais que caracterizam a nossa vida.
O ponto de partida é aquilo que cada pessoa tem escrito no seu coração: o desejo da verdade, do infinito, de beleza. Tudo isso se chama lei natural, não um conjunto de normas, mas um conjunto de necessidades e exigências. Cada um de nós possui estas exigências. Na correria da vida e no influxo da sociedade, muitas vezes não levamos a sério a realidade da nossa pessoa, não levamos a sério a realidade da vida com todo o seu desejo o amor infinito, com todo o seu grito. Ignoramos, deixando-as de lado e a vida é simplesmente um correr atrás de mil coisas, cheios de afã e preocupações.
O valor sagrado da vida humana desde o seu início até o fim natural é afirmar o direito de cada ser humano de ver respeitado totalmente este seu bem primário. A convivência humana e a própria comunidade política (EV) fundamentam-se no reconhecimento desse direito. É o direito de cada pessoa, de cada ser humano de ver respeitada a própria vida, mas o respeito da vida dos outros depende do olhar que cada um tem sobre a própria vida. Se tem um respeito e um amor à sua pessoa aí há respeito e amor ao outro. O amor a si segundo o Evangelho é contrário ao egoísmo. O egoísmo é um pequeno projeto meu (eu quero isso, eu quero aquilo...). O amor a si é a atenção a algo que está em nós, que recebemos e é maior que nós mesmos: é a voz do Infinito presente na nossa pessoa. O nosso eu é relação com o Mistério, com o Infinito, com a Verdade, com a Beleza e com a Justiça, como realização plena da própria vida. Desse modo é possível o amor a si verdadeiro, como promessa que cada pessoa tem em si mesma. Muitas vezes jogamos este amor a si em várias outras coisas, ignorando nossa humanidade, ignorando aquilo que somos.
Só no amor a si é possível educar fazendo florescer, fazendo crescer toda a riqueza que está dentro da vida dos nossos alunos, das crianças e dos jovens.
E o que é que Jesus diz? Em primeiro lugar, de um olhar repleto de amor para com a nossa família. Quando encontra uma pessoa, Jesus não começa a falar das coisas do céu, mas começa a querer bem a ela, desperta-lhe a vida, dá-lhe esperança.... Trata-se de uma atenção à humanidade, uma atenção à realidade. A convivência humana está baseada no valor da pessoa, no valor da vida, no valor dessa dignidade vivida em qualquer pessoa sem diferença de raça, de religião, de credo. É a valorização plena da vida da pessoa.

Os desafios
Quais são os desafios do nosso tempo? Os desafios diante de uma vida sem sentido, na qual se vive sem saber porquê, sem consciência.
Diante de uma vida sem sentido, Deus nos revela a sua vida íntima e o seu mistério mais elevado: a comunhão Trinitária. Diante do desespero de um mundo sem Deus, que só no sinal definitivo da existência, Jesus nos oferece a ressurreição e a vida eterna.
Em uma reportagem, o brilhante escritor Arnaldo Jabour, escreve: “Dentre tantas coisas, quando se fala da morte o negócio é triste, porque de um lado recusa-se o mundo da religião e de outro, percebe-se que nenhuma proposta satisfaz”. Quer mais, deseja mais. O desejo é o desespero que, no tempo, torna-se cinismo, enquanto o coração deseja muito mais.
Para que serve ganhar o mundo inteiro e depois perder a própria humanidade, a própria dignidade e a riqueza que está em nós? Se você ganha o mundo inteiro e depois perde a sua vida, a sua humanidade, perde a sua pessoa, aquilo que é? Isso é muito importante. Como é precioso o trabalho que vocês fazem com as crianças e jovens, pois, normalmente, tudo entra numa outra direção.
Diante do subjetivismo hedonista, Jesus propõe entregar a vida para ganhá-la, porque quem aprecia sua vida terrena há de perdê-la (Jo 12,25). Jesus propõe entregar a vida, e este é o ponto, porque quem aprecia sua vida terrena vai perdê-la. É próprio do discípulo de Jesus e gastar sua vida como sal da terra de luz do mundo (110).
Portanto, a proposta é dar a vida - quem perde sua vida, seu egoísmo, seu interesse pequeno e limitado, seu pequeno mundo e escolhe a sua realização total. É um eu relacionado com outro, é a mãe que diante do pequeno filho quer a felicidade dele, quer a sua realização. Na doação da vida, perdendo-a, é que se ganha, é que se abre para algo muito maior.
Um outro desafio é o individualismo. Diante do individualismo, Jesus convoca a vivermos e a caminharmos juntos. A vida cristã só se aprofunda e se desenvolve na comunhão fraterna. Jesus nos disse: “Um só é seu Mestre e todos vocês são irmãos (Mt 23,8).
Diante da despersonalização, Jesus ajuda a construir identidades integradas.(110)
Diante da exclusão (112), o da exclusão social, da exclusão antropológica, o desconhecimento da dignidade é a marginalização da pessoa Jesus defende os direitos dos fracos e a vida digna de todo o ser humano. De seu Mestre, o discípulo tem aprendido a lutar contra toda a forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa humana. (Bento XVI, Mensagem de Quaresma 2007).
Diante da natureza ameaçada (113), Jesus que conhecia o cuidado do Pai pelas criaturas que Ele alimenta e embeleza (cf. Lc 12,28).
No sermão da montanha (Mt. 5-7), Jesus diz que o Pai do céu alimenta os pássaros, faz crescer os lírios do campo e até os fios de cabelo da cabeça estão todos contados... Não tenham medo! Não é um convite a ficar parado, sem fazer nada. É uma última confiança em tudo aquilo que a gente faz na luta cotidiana. Ter confiança última porque existe um significado bem perto de nós. É diferente começar um novo dia com esta confiança, com essa esperança que começar simplesmente com as nossas preocupações. O início de cada dia é muito importante. O início é esse olhar do Pai do céu e, a partir disso, comunicamos uma experiência positiva, uma visão diferente da vida e da realidade.
Convoca-nos também a cuidar da terra para que ela ofereça abrigo e sustento a todos os homens (Gn 1,29;2,15). Cuidar da terra e não aproveitar, não derrubar e não destruir. Este é o cuidado com a terra com a realidade.

Consumismo x vitalidade que Cristo oferece
O consumismo hedonista e individualista coloca a vida humana em função de um prazer imediato e sem limites e obscurece o sentido da vida e a degrada.
A vitalidade que Cristo oferece nos convida a ampliar nossos horizontes e a reconhecer que abraçando a cruz cotidiana, entramos nas dimensões mais profundas da existência. (357) Trata-se de uma luta, uma batalha, um sacrifício, mas é claro, que tudo depende daquilo que nós amamos. Quando há um significado, faz-se com ímpeto e generosidade. A luta da vida é para viver uma experiência de plenitude e uma humanidade de atenção a nós mesmos, à nossa casa, às crianças, aos jovens que nos são dados na tarefa educativa.

Os novos desafios
Assistem-se hoje os novos desafios que nos solicitam ser voz dos que não tem voz. A criança que está crescendo no seio materno e as pessoas que se encontram ao ocaso são uma voz de vida digna que grita ao céu e que não pode deixar de nos estremecer. É a vida daqueles que não têm voz. Em defesa da vida lutaremos, desde a sua concepção até o seu término natural.

Violação da vida
A liberação e a banalização das práticas abortivas são crimes abomináveis, como também a eutanásia, a manipulação genética e embrionária, os ensaios médicos contrários à ética, a pena de morte e tantas outras maneiras de atentar contra a dignidade e a vida do ser humano. (467).
São estas violações que temos diante dos olhos e não podemos permitir. Como educadores, precisamos educar e buscar a superar. Podemos defender a vida se somos educadores. Não apenas denunciar as violações, mas o importante é conhecer a nossa proposta positiva.

O Senhor da vida (112)
Só o Senhor é autor e dono da vida. O ser humano, sua imagem vivente, é sempre sagrado, desde a sua concepção até a sua morte natural; em todas as circunstâncias e condições de sua vida. Diante das estruturas de morte, Jesus faz presente a vida plena: “Eu vim para dar a vida aos homens e para que a tenham em abundancia”(Jo 10,10).
Compartilho dois testemunhos – de Vicky e Pe. Aldo - que ouvi num grande momento de cultura realizado na cidade de Rimini, Itália, no mês de agosto.
Vicky mora em Uganda, casada e estava em sua terceira gravidez. O seu marido falou para abortar ou iria embora. Ela respondeu que ficaria com a criança e o marido foi embora. Esta criança, um pouco tempo depois de nascida, teve tuberculose e a própria Vicky também ficou doente. Sendo enfermeira, fez o teste do HIV no hospital onde trabalhava. O teste deu positivo. Ela afirmava que era impossível, pois nunca traíra o marido. Então entendeu o porquê do pedido do aborto, pois sabia que a criança nasceria aidética. Com isso, ela entrou em depressão e ficou numa solidão total. Naquele momento foi abandonada pelos seus familiares e pelo seu marido. Em Uganda existe um centro de acolhida às mulheres portadoras do vírus HIV. Ali há uma ajuda a recuperarem a confiança. Um dos voluntários foi visitá-la e ela recusou ajuda: “Se meus parentes me abandonaram por que você deveria me ajudar? Como vão me ajudar? E não quis saber de nada. No mês seguinte, a responsável deste grupo foi visitá-la. Ela bateu a porta dizendo que não queria saber de nada. Então, Rose falou: “Se você quer ficar nessa, tudo bem, mas me deixe levar a criança. Ela tem uma vida pela frente e pode ser curada”. No momento não quis saber. Porém, no dia seguinte pensou e levou a criança. Com o tratamento, o seu filho começou a melhorar. Rose foi visitá-la novamente. Vicky sentiu-se olhada de uma forma diferente e começou a ir ao Centro. Recuperou a esperança e a saúde. Hoje faz parte deste grupo, em que deu seu testemunho: “Tudo isso aconteceu porque alguém me olhou de uma forma diferente, com amor e atenção. Mesmo que tenha mandado Rose embora, ela voltou. Insistiu e veio. Ficou comigo e me deu esperança”. Perguntaram à Rose porque sem conhecer a Vicky ficou perto dela. Ela respondeu que, quando estava com problemas, um padre a olhou de forma diferente, com olhar cheio de esperança. E completou: “Se vocês se recordam a vida de Lázaro, ele estava morto e voltou a viver. Então, a Vicky é um sinal, uma afirmação da vida. O positivo é que estas mulheres foram premiadas por demonstrarem atenção.
Padre Aldo, missionário no Paraguai há vinte anos, recolhe meninos de rua (como faz a Comunidade Jesus Menino que acolhe meninos abandonados) e contou a história de Victor. Este menino nasceu com o cérebro enorme, cheia de água. Os médicos tiraram a água e ele chorava e gemia muito. Pe. Aldo diz: “Enquanto ele chora, fico ajoelhado perto dele e quando o beijo os gemidos se acalmam. Sei que não este menino não tem ninguém e como Cristo na cruz, faço o possível para ele receber amor”. Este é o triunfo da vida e este é o amor de Jesus! Este é o amor puro, que levanta o mundo inteiro! E prossegue: “Consegui recuperar as crianças porque também um outro padre, meu amigo, me olhou assim e me valorizou”. Em nossa vida, tudo depende de um encontro. A Pastoral da Educação tem a possibilidade de fazer um encontro assim; um encontro que ofereça muito amor. Este é o ponto decisivo pelo qual o anúncio de Cristo, seja um anúncio de esperança, que muda a situação e muda a realidade.

O Querigma da Vida (348)
O anúncio do querigma convida a tomar consciência desse amor vivificador de Deus que nos é oferecido em Cristo morto e ressuscitado. Isto é o que primeiro necessitamos anunciar e também escutar, porque a graça tem um primado absoluto na vida cristã e na atividade evangelizadora da Igreja; “pela graça de Deus sou o que sou.”(1Cor 15,10)
A Rose e o Pe. Aldo são a manifestação dessa graça. Padre Aldo quando triste encontrou um amigo que o valorizou e, por isso, se recuperou da depressão. Chegou a escrever: “Para a minha depressão foi uma graça, porque através daquela circunstância descobri que estou ligado a algo muito maior.

A proposta de Cristo (362)
Jesus Cristo nos oferece muito, inclusive muito mais do que esperamos: à samaritana, Ele dá mais que a água do poço; à multidão faminta oferece mais do que o alívio da fome. Entrega-se a si mesmo como a vida em abundância. A vida nova em Cristo é a participação na vida de amor do Deus Uno e Trino. Começa no batismo e chega à sua plenitude na ressurreição final
Ele oferece muito mais daquilo que se espera, muito mais daquilo que uma pessoa deseja imaginar. Quando começa a seguir esse caminho, nos oferece mais do que esperamos. Temos que começar a seguir de verdade. Ou você joga num time ou não joga. Ou você está no time da Pastoral Educação ou não está. É uma etapa, um início, é preciso segui-lo. Se não segue, não pode se queixar, porque se segue, essa é a possibilidade de uma riqueza verdadeira e feliz.

A serviço de uma vida plena para todos (7.1.3)
As condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em suas miséria e dor, contradizem este projeto do Pai e desafiam os cristãos a um maior compromisso a favor da cultura da vida. O reino de vida que Cristo veio trazer é incompatível com essas situações desumana. (358)
Diante das condições desumanas, uma proposta concreta da vida, uma missão.

Uma missão para comunicar vida (7.1.4)
Acrescenta-se vida, doando-a e enfraquece-a no isolamento e na comodidade. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam à margem a segurança e se apaixonam na missão de comunicar vida aos demais. (360)
Esta é a lei da vida que cresce quando é oferecida e essa é a beleza de um dom que cresce porque responde e que faz aumentar uma forma íntegra de viver e de experimentar tudo.

A doação da Vida
“Quem aprecia sua vida terrena a perderá” (Jo 12,25). Aqui descobrimos uma outra lei profunda da realidade: a vida se alcança e amadurece à medida que é entrega para dar vida aos outros. Isto é, definitivamente, a missão. Quanto mais nos entregamos, quanto mais na experiência do nosso trabalho e de nossa família o amor acontece, a vida cresce. Quem só quer ganhar, perderá. E quem der algo ganhará cem vezes mais.
Um encontro na sala de aula, aquele encontro de vida, não é um fato burocrático. E não é apenas ensinar filosofia e matemática, mas é um encontro humano. É importante que, quando começamos as aulas, haja um encontro humano, um relacionamento para a comunicação de vida. Esta é a beleza do grande educador e o que ele faz lhe dá satisfação e o faz livre mesmo nas dificuldades. Essa é a liberdade, não o comodismo. Essa é a beleza de quem se entrega, se perde, para construir algo maior.

A dimensão missionária
Necessitamos de uma forte comoção que impeça de instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença à margem do sofrimento dos pobres do continente (362).
Necessitamos que cada comunidade cristã se transforme num poderoso centro de irradiação da vida.
A Pastoral da Educação não é mais uma coisa burocrática (Agora vão fazer mais uma pastoral!),. É esta paixão pelo destino do outro; é uma forte comoção pela grandiosidade do amor com o qual Cristo nos ama.
Invoquemos o Espírito Santo a fim de podermos dar testemunho de proximidade que entranha proximidade afetiva. Escuta, humildade, solidariedade, compaixão, diálogo, reconciliação, compromisso com a justiça social e capacidade de compartilhar, como Jesus o fez.
Trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos com ousadia e confiança (parresia) à missão de toda a Igreja. (363) Compartilhar com Jesus é construir como Jesus fez. Um anúncio que é feito diante todos.
Necessitamos que o núcleo de professores católicos e cristãos seja uma irradiação poderosa da vida no Decanato, na Diocese.

Maria, discípula missionária
Detemos o olhar em Maria e reconhecemos nela a imagem perfeita da discípula missionária. Ela nos exorta a fazer o que Jesus nos diz (Jo 2,5), para que Ele possa derramar sua vida na América Latina. “Fazei tudo aquilo que Ele disser”. Este é o exemplo de quem oferece a vida, mesmo nas tribulações. Nasce o filho de Deus e precisam fugir para o Egito. Correm daqui e de lá.
Junto com ela estejamos atentos uma vez mais à escuta do Mestre, e ao redor dela, voltarmos a receber com estremecimento o mandado missionário de seu Filho: “Vão e façam discípulos todos os povos”(Mt 28,19) (364)


A cultura da vida para proclamação e sua defesa (7)
Capítulo IX - Família, pessoas e vida. A vida é um presente gratuito de Deus. É dom e tarefa e, por isso, devemos cuidar dela com sagrada atenção, desde a sua concepção, em todas as suas etapas, até a sua morte natural, sem relativismos. (464)
O anúncio vem com ousadia e com coragem. Cada um faça o percurso e tire a sua conclusão, porque esse é o momento em que queremos viver juntos. Não simplesmente para a escuta de uma palestra, mas faça o percurso ao escutar algo que provocaram vida.

Conclusão
Não uma inteligência ou uma energia particular, mas aderir a algo que vem antes. Ser atentos às perguntas da nossa realidade e as dos alunos.
Aderir a uma vida que nos alcança: a vitória de Cristo. (Mulher, não chores!)
Que enche nossos olhos e ilumina toda a realidade. Isso muda o meio.
Mas não como energia ou inteligência particular, pois nem todos são gênios. Todos somos iguais, pessoas normais. Algo que vem antes, algo como nos casos apresentados: um abraço, um olhar, etc. Algo que vem antes de nossa própria vida.

Educamos quando reconhecemos e seguimos a plenitude que dá significado a nossa vida.
Dar razão da vida que está em nós: cultura nova.
Defender e doar a vida.
Anunciar a vida plena para todos

A Pastoral da Educação é esta experiência de unidade, de amizade, que imediatamente transforma a nossa pessoa, transforma a vida e muda o contexto no qual vivemos. Portanto, é contagiante. Assim é quando começamos a ter um trabalho educativo de qualidade e de intensidade.









ASSEMBLÉIA

Pergunta: Como manter viva a chama que hoje se acendeu em meu peito e como multiplicá-la? Como manter vivo esse encontro que hoje estamos fazendo?
D. Filippo: Em primeiro lugar, prestemos atenção ao grito que está em cada um de nós. Fomos tocados pelos testemunhos que contei, pela perspectiva que nasce na Igreja. Todo dia levemos em consideração o nosso coração, as nossas exigências, a nossa humanidade. Levemos a sério a nossa humanidade. Não é óbvio porque de manhã nos distraímos. Tudo fazemos, menos levar a sério as perguntas dentro de um momento de diálogo com o Infinito, com o Mistério. Levar a sério essas perguntas que temos, o grito, as exigências, esta riqueza que hoje se manifestou. Para mim foi um encontro que despertou, porque a vida não é só palestras. A vida é o nosso trabalho pessoal, a partir da realidade e das perguntas que temos em nosso coração.
O segundo aspecto é o serviço que a Pastoral da Educação pode fazer; os núcleos nas paróquias e nos Decanatos, pessoas que se ajudam nesse caminho. Retomar a perspectiva indicada: a atenção à própria vida porque Deus fala através dela, e a atenção ao testemunho dos amigos. Fazer núcleos de trabalho nesse sentido.

Pergunta: Quais as orientações para revertermos, neste mundo contemporâneo, o senso consumista que já se limita ao nível dos conhecimentos e habilidades?
D. Filippo: Como podemos reverter a situação? Vivendo uma nova perspectiva, aquela que o documento de Aparecida, aquela que a nossa Pastoral da Educação, nos indica. Desenvolvemos a nossa vida de forma positiva. O nosso objetivo não é lutar contra os outros, mas desenvolver o bem que está na pessoa humana e na realidade. Batalhamos contra tudo que não nos faz crescer na vida. É como uma mãe que quer o desenvolvimento do filho e luta contra tudo aquilo que quer diminuí-lo. E queremos o máximo do desenvolvimento da pessoa. Esta é a perspectiva: desenvolver todo o positivo, desenvolver a perspectiva da Pastoral da Educação que indicamos. Não esquecer os conhecimentos e habilidades porque são importantes, mas tem um núcleo sagrado da pessoa que consideramos, ou seja, a riqueza da vida em todos os seus aspectos. A partir disso, ter o olhar do Senhor sobre a nossa vida, que se torna o nosso olhar concreto, como aprendemos nos testemunhos que ouvimos.

Pergunta: Como vivenciar na escola o espírito da Pastoral da Educação, mesmo sem professores de Ensino Religioso?
D. Filippo: Quando há professores do ensino religioso é mais fácil, mas quando não temos, o que fazer? Esse encontro não é oferecido apenas para os professores de Ensino Religioso, mas para todos e cada um de nós possui o seu senso religioso, tem o seu encontro com o Senhor, tem a sua humanidade, tem a sua pessoa. Onde não há professores, procure o padre de referência no Decanato. Vamos impulsionar a Pastoral da Educação! Façamos o possível para que venha, para que nos seja dado. Façamos seu itinerário para nossos trabalhos nessa perspectiva.

Pergunta: O Senhor não acha que a valorização da vida tem sido levada aos alunos, pelos professores, de forma geral?
D. Filippo: Sim. Porém no seu dia-a-dia, é clara a deficiência com relação ao apoio das políticas públicas. Esta contribuição é importante e cada um deve fazer o seu trabalho para melhorá-las. É necessário intervir principalmente nas ocasiões das eleições. Verificar qual é a orientação concreta dos candidatos no tema da educação, para que não seja a “Cinderela” de todo programa político, pois só se fala e de fato nada é feito para o reconhecimento da dignidade dos professores. Não é possível que se viva com um dos mais baixos salários que existe! Toda esta batalha é justa e temos de estar na frente. Ao mesmo tempo, o nosso trabalho pessoal deve continuar. E o nosso trabalho é a defesa da vida, mesmo nas piores situações. Então, o incentivo seja para continuar a atitude educativa, seja para incrementar também as políticas públicas em favor da educação.

Pergunta: O que a Igreja Católica local pode fazer para que a escola compartilhe junto à comunidade cristã transformando-o num grande e poderoso templo de irradiação de vida ?
D. Filippo: O que podemos fazer é colocar-nos a serviço da vida. Por exemplo: A Pastoral da Educação não é composta apenas pelos professores, mas está em contato com a Pastoral Familiar, com a Pastoral da Juventude, com Pastoral da Criança e com a Pastoral dos Meninos de Rua, ou seja, está em contato com todas as outras pastorais. Ver este leque, não reduzir só ao ensino escolar formal e institucional. A Pastoral da Educação tem este grande horizonte. Então é preciso ampliá-lo. Começar com o núcleo dos professores, assim como os livros para as turmas do segundo ao quinto anos. Há livros de ensino religioso para a educação infantil específico para católicos, publicados pela Editora Vozes, sendo o tema fundamental “Educar a partir da experiência do amor de Deus”. Colocam-se diante dos nossos olhos o amor de Deus, que foi dado através da vida de Cristo e que continua hoje através das suas testemunhas.

Pergunta: Qual é a melhor maneira de se trabalhar o tema “A valorização da vida” em classes onde os alunos têm diferentes concepções religiosas?
D. Filippo: O tema sobre a vida não é só para católicos, evangélicos ou protestantes. A vida é um tema ecumênico. O amor à vida do padre Aldo não pergunta a que religião pertence, se é batizado ou não. Ele acolhe todos. Tanto o tema da vida, como da dor são ecumênicos. Cristo veio para abraçar a todos. Desenvolvemos, portanto, o tema da vida, abertos a todos, sem restrições. Essa é a gratuidade pura. E aprendemos isso a partir do encontro com Senhor e partir da experiência da Igreja Católica que nos oferece a perspectiva de formação integral.

Pergunta: Existem pessoas disponíveis para dar palestras nas escolas? Como fazer?
D. Filippo: É possível que estas palestras sejam ministradas nas escolas através da Pastoral da Educação, através dos padres em cada Decanato e através da coordenação (Mons. Paulo e Maria Nilva). Eu coloco esses slides à disposição.

Para finalizar, fica um pedido: promover um congresso para a Pastoral dos Católicos na ação política.

Discípulos e missionários na emergência educativa

Palestra realizada por Dom Filippo Santoro, Bispo de Petrópolis, por ocasião do II Congresso da Pastoral da Educação da Diocese de Petrópolis, em 22 de setembro de 2007, no Instituto Social São José.

De 13 a 31 de maio de 2007, foi realizada a 5ª. Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em Aparecida, São Paulo.
Este evento foi marcado e orientado pelo discurso do Papa Bento XVI em seu discurso na Sessão Inaugural. Como responder aos desafios do nosso tempo? Dentre os vários desafios, destacam-se o da educação e o problema das novas denominações religiosas e seitas.
Um outro aspecto a ressaltar é que esse encontro foi marcado pela bela liturgia e pela presença de Nossa Senhora Aparecida. As missas eram celebradas no altar central da Basílica e muitos romeiros participavam, sobretudo nos finais de semana. Nas sextas-feiras eram cerca de trinta mil e nos sábados, oitenta mil. No domingo de Pentecostes chegou-se a cento e vinte mil pessoas. Um povo simples, uma fé sofrida e forte dos romeiros, sustentava as discussões. O que os bispos faziam, partia da presença desse povo cheio de tantas dificuldades, mas que dava para se ver que era sustentado pela fé, pela presença do Senhor. E depois, a variedade e seriedade dos pastores, pois estavam bispos de toda a América Latina e do Caribe. Cada um com a sua cultura, com a sua forma de pensar, mas o valor preponderante é que nessas diferenças se percebia a ação do Espírito Santo que nos conduzia.
Aparecida foi um momento memorável! Por dez anos ou mais, retomaremos o que esta Conferência nos ofereceu.
Neste primeiro momento de minha palestra, retomo a mensagem “alegria de sermos discípulos”. O ponto de partida não é uma discussão, nem mesmo uma problemática, mas a alegria daqueles que encontraram o Senhor. O que pode transformar a vida? Não é a análise de outros discursos, mas a experiência bonita que podemos fazer como os primeiros discípulos. A alegria do encontro com o Senhor diz algo à vida, atinge a nossa vida e a transforma.
Segundo o Documento de Aparecida, o discípulo não nasce do diagnóstico, da análise ou da discussão, mas da erupção do Espírito e do valor da atração, quando o Espírito extraordinário faz erupção na nossa vida habitual. É algo diferente que entra na vida e oferece um significado, uma esperança, oferece um valor, ou seja, é a presença do Mistério de Deus feito homem que acompanha os nossos passos.
Como se forma, então, o discípulo nos itinerários educativos? E aqui está a questão dos nossos debates em Aparecida. A origem do discípulo está no dom do Espírito que faz acontecer algo novo na vida da Igreja e da sociedade, alguma coisa que não existia, como quando nasce uma criança ou como quando uma pessoa se apaixona de repente. Esse algo entra na vida e você não tinha calculado. É o Espírito de Deus que nos contagia.
O discípulo-missionário é aquela pessoa tocada pelo Espírito, que experimentando este algo novo, torna-se imediatamente missionária.
Vamos enfocar algumas questões fundamentais, para que possamos entrar na temática da educação.
O método de Aparecida foi “ver”, “julgar” e “agir”. O ponto de partida não é uma análise sociológica da realidade ou um discurso sobre as condições, mas os olhos e o coração dos discípulos. É a novidade que o Senhor introduziu na história, a partir da experiência do ver dos discípulos, do ver que tinha Pedro, Tiago, João. São Mateus depois do encontro, muda a vida. Ele estava no banco da coletoria dos impostos e muda sua vida no ver do encontro com o Senhor.
Ver a vida dos nossos povos hoje, particularmente, com a temática da globalização, em seus efeitos positivos e negativos. Ver qual é a vida dos nossos povos aqui na América Latina e no Caribe.
Julgar a vida de Jesus Cristo nos discípulos e missionários. O que caracteriza a vida dos discípulos? Qual é a qualidade de vida dos discípulos? O que Jesus coloca de novo no coração e na vida? Qual é a novidade?
Agir: A dimensão missionária. A vida de Jesus Cristo para nossos povos. O que se oferece para a vida dos nossos povos? A importância dos grandes temas: defesa da vida, família, cultura, as várias diferenças existentes na sociedade. Na temática ecológica, uma grande atenção dada à Amazônia. E também uma atenção aos afro-descendentes. Um atenção à problemática humana emergente no nosso tempo, às circunstâncias nas quais vivemos, iluminada pela própria vida de Jesus. Nesse tema, o fio condutor é a vida. O Papa Bento XVI o escolheu “para que em Cristo, os nossos povos tenham vida.”

A TEMÁTICA GERAL SOBRE A EDUCAÇÃO

A Conferência de Aparecida observa algo que nós também constatamos: as tradições culturais não se transmitem de uma geração a outra com a mesma fluidez que no passado. Antes era normal que o modo de viver dos pais fosse transmitido aos filhos. Hoje, não é tão fácil assim. Com toda a educação de pais católicos nascem filhos diferentes; em famílias maçônicas e comunistas aparecem filhos católicos. Isto afeta o núcleo mais profundo de cada cultura constituído pela experiência religiosa. Quando a família vive uma experiência religiosa, não é automático que os filhos sejam religiosos, pois entra em jogo muitos outros elementos.

D.A 328 – Por que estamos diante da “emergência educativa dos discípulos e missionários”? Devido às reformas educacionais feitas pelos governos da América Latina e do Caribe, que denotam um reducionismo antropológico, uma visão da pessoa humana reduzida ao qual foi cortada a relação com o transcendente, com o Infinito. Reduzida simplesmente ao plano material, instintivo, ao consumo, sem a perspectiva da relação com o Mistério. Muitas legislações falam sobre isso. O que a escola deve fazer neste mundo competitivo? Preparar para o mercado, para o trabalho e para o consumo. É justa, mas não é o único processo da formação. Com frequência, propiciam fatores contrários à vida, à família e a uma sexualidade sadia. Muitas vezes, esta forma de educação reduzida simplesmente à produção, ao consumo e à cidadania, que são importantes, mas que tem toda a dimensão do encontro com o significado, com o Mistério que é reduzida ou eliminada
Um exemplo desse reducionismo antropológico é o livro didático “Nova História Crítica”, do historiador Mario Schimidt, da Editora Nova Geração. Particularmente os exemplares para a 8ª. séries, na avaliação do ano 2007 para 2008, serão proibidos por ser de cunho de doutrinamento. É um livro de distribuição gratuita pelo Governo Federal. Há muitas discussões de que a escola não pode ser confessional e esse livro no seu conjunto é um confessionalismo puro à ideologia marxista.
Os temas capitalismo, marxismo, Mao-Tsé, Revolução Cubana, Revolução Chinesa são os novos deuses desses tempos. É uma certa visão da realidade que se apresenta como científica e elimina totalmente a referência ao transcendente, que elimina qualquer contato com o Mistério, que elimina a referência ao significado da vida. Aplica de forma grosseira a dialética marxista ao método científico, dizendo que esta é a única visão da realidade. Muitas aulas de história são lutas ferozes contra a Igreja, pois é uma visão unilateral da realidade que não tem nada de científico. A experiência do Mistério é considerada para estes como uma alienação, sendo que muitos cientistas afirmaram o valor do Mistério. Portanto, o contexto em que nós vivemos é de um reducionismo antropológico.
O Documento de Aparecida afirma que não se desenvolve a dimensão religiosa, nem se oferecem caminhos para superar a violência, porque não é explicado o fundamento da dignidade da pessoa. Desde criança, a pessoa tem uma dignidade infinita. Deve ser respeitada não apenas porque é cidadã, mas porque é um mistério do Altíssimo, feita imagem e semelhança de Deus.
A Educação é o lugar privilegiado da promoção e formação integral mediante a assimilação sistemática e crítica da cultura. Promover a pessoa integralmente, não somente no aspecto da produção, do consumo e da cidadania, mas também na sua relação com o significado do Mistério. A educação humaniza e personaliza o ser humano quando consegue que este desenvolva plenamente seu pensamento e sua liberdade. A educação, dessa forma, como relação com todas as coisas, como introdução à realidade total.
A formação integral comporta a defesa da religiosidade aberta a um fim. É uma exigência à abertura ao Infinito, não da religião, mas da razão, que busca um significado. A razão quer conhecer, chegar ao Mistério. Ela não pode ser reduzida ao puro antecedente biológico. Uma pessoa reduzida a um mecanismo, é reduzida aos seus antecedentes biológicos. Em cada um de nós, há dois elementos: o corpo material (inserido plano normal da criação) e o elemento da relação com o Mistério, que é a nossa alma imortal e irredutível aos mecanismos materiais. Somos feitos com vários mecanismos, no entanto há algo em nós que é maior que eles. Em cada pessoa existe a exigência de Infinito, pois é relação com o Mistério.
Dessa forma, a obra educativa não é apenas do professor de religião, mas de todos os educadores.
É preciso educar plenamente a pessoa para viver seu significado. A abertura ao Infinito precisa ser permanentemente educada, uma vez que, sem uma educação, não se sustenta. É necessário algo que nos desperte. Por que o Senhor Jesus veio ao mundo? Para salvar a religiosidade do homem, para salvar essa abertura ao Infinito. E por que existe a Igreja? Para salvar a natureza humana. Para que fazemos a Pastoral da Educação? Para não reduzir a nossa atividade de educadores, para uma formação continuada dos educadores. Sem a formação nos fechamos.
Como Jesus educava? Ele formou pessoalmente os seus apóstolos e discípulos, usando o método: “Vinde e vede”. Vem e faça a experiência de que “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Venham e vejam essa novidade que sou Eu para a vida de vocês, essa novidade que sou Eu para o mundo. Como Jesus, podemos desenvolver as potencialidades que há nas pessoas e formar discípulos-missionários. Portanto, a educação como desenvolvimento pleno e realização da pessoa, com perseverante paciência e sabedoria, como Jesus convidou a todos para segui-Lo.
Mesmo depois de tanto tempo da permanência de Jesus com os apóstolos, não tinham entendido nada. Porém, eram apegados à pessoa de Jesus. Isso era importantíssimo! Os que aceitaram seguir Jesus foram introduzidos no mistério do Reino de Deus. Depois de sua morte e ressurreição os enviou a pregar a Boa Nova com a força do Espírito. Portanto, a educação se faz com paciência, perseverança e sabedoria, segundo uma experiência que ajuda a mudar.
Educa-se pelo fascínio de algo que atrai e conquista, que faz desenvolver e dar um passo a mais. Jesus despertava emoções profundas em seus discípulos e estes ficavam atraídos e maravilhados! A maravilha utilizada como método educativo. O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como Mestre, que O segue e O acompanha. DA 277. Essa que é a verdadeira comunicação. Não é comunicar conceitos. O ponto de partida de nossa pastoral é essa experiência que temos.
Para os educadores é importante a realidade do encontro com a pessoa de Cristo, não de um encontro qualquer, não de um discurso, nem uma série de indicações morais do que se deve ou não fazer. Isto é, que apesar das diferentes apresentações, todos os Evangelhos querem inserir-nos no encontro de fé com a pessoa de Jesus. A própria natureza do cristianismo consiste em perceber a presença de Jesus e o seguir. Essa foi a maravilhosa experiência daqueles que encontraram Jesus. Ficaram fascinados e cheios de assombro, diante da excepcionalidade dAquele que lhes falava, pela maneira como os tratava, correspondendo à fome e à sede de vida que havia em seus corações. Este é o método como Jesus tratava as pessoas e como olhava às pessoas. Esse é o método que podemos utilizar para uma efetiva experiência educativa.
O Evangelho de João deixou plasmado o impacto que produziu Jesus nos dois discípulos - João e André - que o encontraram. O que procuravam? Diante dessa pergunta, seguir um convite a viver uma experiência. O Senhor não dá explicação, mas convida: Venha comigo!
Por isso, a função da Pastoral da Educação, segundo Aparecida, é de uma educação que ofereça às crianças, aos jovens e aos adultos, o encontro com os valores culturais do seu país, descobrindo e integrando neles a dimensão religiosa. Necessitamos de uma Pastoral da Educação dinâmica, inserida nos processos educativos.
D.A. 379 – O tema da liberdade da educação vale não somente para as escolas particulares, onde seja dada uma educação específica, mas também para as escolas públicas. Cada família possui o direito de escolher a educação para seus filhos. Esta parece uma utopia, mas significa que posso matricular o meu filho na escola que eu acho mais conveniente, seja ela do Estado, particular, do Rabinato, do Islã, ou aquela que eu escolho.
Pelo fato de dar-lhes a vida, os pais têm a responsabilidade de oferecer a seus filhos condições favoráveis para o seu crescimento e a séria obrigação de educá-los. Por isso, têm que se reconhecer como os primeiros e principais educadores. O dever da educação familiar é a primeira escola e, quando falta, dificilmente pode ser suprimida.
A Pastoral da Educação é a presença educadora da Igreja no mundo da educação, que permite por meio de processos pedagógicos e educativos o encontro com o Evangelho. O mundo da educação é todo esse mundo complexo, no qual estamos mergulhados.


SÍNTESE

Neste II Congresso Diocesano manifestou-se uma maior maturidade. Aqueles que estão trabalhando na Pastoral da Educação começaram por um interesse pessoal, pelo desejo de levá-la a sério. Em primeiro lugar, não existe uma preocupação organizativa, antes um interesse pessoal suscitado pelo tema da educação, uma vez que estamos todos implicados neste caminho. Não se trata de um comando externo, mas é o interesse pessoal de aprofundar esta questão, visto que na Conferência de Aparecida recebeu um aprofundamento.
No primeiro bloco de respostas à pergunta “Como, por meio de nossa atividade educativa, formamos discípulos e missionários?”, evidencio as palavras “fascínio” e “atração”. Não há educação sem algo atraente para nós, educadores, que nos lance na aventura da vida e da arte educativa. Bento XVI, em seu discurso na explanada em Aparecida, mencionou que “o Senhor nos atrai por meio da sua beleza”. Também ligada à atração que exerce em nós, a força do testemunho, ou seja, o transbordar dessa Beleza encontrada. Nas salas de aula ou nos trabalhos da Pastoral da Educação é uma nova aventura e um novo testemunho que nos impulsiona. O que nos é dito, deve tornar-se um trabalho pessoal. Saiu o Documento de Aparecida, então começar a trabalhar!
Neste primeiro ponto, indico o valor do fascínio, o valor do aprofundamento comum do texto de Aparecida e, sobretudo, o amor ao que se faz e ao que se ensina. Não podemos ser educadores sem a experiência desse amor transbordante. É possível amar se partirmos de algo que vem antes. O ponto de partida é o fato de sermos amados pelo Senhor. Lembre-se do amor que o Senhor tem para com você! Foi Ele quem chamou e escolheu você e deu a vocação ao casamento, à vida familiar ou à vida consagrada. Agora, o que vamos fazer? Este ponto de partida tem o “antes”, que é a experiência do amor. Sem a experiência de sermos amados não podemos receber nem doar algo infinito e bonito. Não somos técnicos ou funcionários! Somos gente amada e escolhida por nome, somos discípulos! Da mesma forma ao longo do Mar da Galiléia, agora percorrendo as estradas de Petrópolis, Magé, Teresópolis, etc., Ele chama e convida: “Venha comigo na aventura da educação!” Tenham presente este fato que está na nossa origem, pois não se refere apenas com o que fazemos em sala de aula, mas tem a ver com o que somos na vida. Se o deixam de lado, estão perdidos! A nossa força é a presença do Mistério feito amigo, que nos toca e que vem antes de qualquer ação. Portanto, antes do início dos nossos dias, lembremo-nos que há Alguém que nos ama, nos quer bem e nos lança nas aventuras da vida.
Nesse segundo ponto, em “como ser e ter consciência crítica e profética diante de uma política de educação, que nem sempre respeita os direitos fundamentais dos cidadãos?”, afirmo que a realidade pode ser transformada. Não é verdade que não tem jeito! Algo pode mudar! Em primeiro lugar, mudo a minha pessoa por causa de uma esperança inefável. E isso já transforma a realidade, já é o princípio de um mundo novo nesta novidade que vive em nós. A realidade pode ser mudada ao assumirmos a nossa identidade e a nossa dimensão profética, ao reconhecermos a nossa origem e identidade, quem somos. Para isso é necessário um itinerário formativo. A Pastoral da Educação é uma grande escola, é uma experiência que nos acompanha ao longo de todo o itinerário formativo humano, uma formação continuada que acompanha os nossos passos, um atrás do outro. Existe para não nos deixar sozinhos e perdidos no nada, é uma experiência de unidade e de comunhão. Atenção: isso vale para todos – diretores, professores, padres, bispo. Se o bispo não possui uma experiência que continuamente o sustenta, fica sozinho. Se está unido aos padres e aos leigos, alimenta-se e pode sustentar outros. Se é válido para o bispo, então vale para cada um de vocês! Somos uma comunidade educativa, onde somos continuamente gerados, ajudados a crescer e a sermos protagonistas neste caminho. E neste itinerário formativo está aquela atitude profética. Escuta-se e ingere-se muitas coisas, como aquele livro “Nova História Crítica”. Sejamos críticos diante dessas reduções antropológicas! E a crítica é possível se temos um critério, ou seja, a nossa experiência pessoal humana e de fé. Não existe neutralidade na educação! Há uma perspectiva clara, esclarecida pelo Santo Papa como uma perspectiva integral, que envolve todas as dimensões da pessoa.
Ser profetas significa ter um juízo claro, mas também ter paixão pelos colegas e pelos alunos, oferecer o abraço a quem está perto de nós. Às vezes tem-se todos os juízos, no entanto não se relaciona com as pessoas. É importante esta questão de pessoas que manifestam o amor de Cristo (Deus Caritas Est), que exprimem um coração diferente, há uma postura afetiva de envolvimento com as pessoas. Esta comoção é um juízo, não é algo intelectual.
Coloco um outro ponto, a partir da pergunta: “O que há de concreto de organização e ação da Pastoral da Educação nos seu decanato e paróquia?
Até o ano passado não havia nada como referência à Pastoral da Educação e neste ano já estamos organizados em nível dos Decanatos. E precisamos prosseguir! Aqui proponho a atenção privilegiada ao trabalho dos decanatos, pois é ali que as riquezas são maiores, uma vez que estão as paróquias e os movimentos eclesiais. Vamos fortalecer a dimensão da Pastoral nos quatro decanatos como trabalho privilegiado, rigoroso e estável. Ao mesmo tempo, aquilo que se aprende nos decanatos deve ser desenvolvido também nas Paróquias.
Retomo que a Pastoral da Educação não é composta apenas pelos diretores e professores. Ela é transversal, incluindo as pastorais familiar, da juventude, universitária, social, carcerária, dentre outras. Por ser muito ampla, não seja restrita apenas à pastoral dos profissionais da educação e do ensino religioso, embora estes sejam um capítulo privilegiado. Trata-se de uma pastoral transversal que está inserida no Plano Pastoral de Conjunto da nossa Diocese, que existe em função da missão e do anúncio do Senhor Ressuscitado.
E um último conselho: dialogar com a estrutura pública institucional. Estão na escola, então tentem dialogar com a direção. São diretoras, busquem o diálogo com a secretaria de educação da cidade. Não podemos ficar passivos! Sejamos positivos, sejamos críticos, porque a nossa experiência de fé não é daquelas pessoas que ficam presas nas paróquias, vão à missa, fazem um momento de oração e fica tudo lá. A nossa experiência de fé entra na estrutura da vida concreta da sociedade, influencia a vida pública, influencia esta emergência educativa diante do reducionismo antropológico. Para que isso aconteça, precisamos fazer o nosso trabalho e para esta atenção é necessária a unidade em nossos decanatos e diocese. Em nível diocesano já existe uma condução afinada, que se reúne sistematicamente e faz referência também na Pastoral da Educação no Regional Leste 1. Este II Congresso foi possível porque existe um núcleo que vive uma amizade e, a partir disso, faz-se uma proposta para todos.

Desejo a vocês de continuarem nos decanatos e nas paróquias com esta intensidade e plenitude. É possível transformar a realidade a partir do abraço de Cristo e da nossa unidade. Obrigado!